O futuro do breakdance está nesta praia

Comunidade

Os atletas de Dakar, no Senegal, exibem os seus movimentos que desafiam as leis da física nas águas cristalinas.

Última atualização: 12 de agosto de 2021
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Terrenos de jogo: o futuro do breakdance

"Terrenos de jogo" é uma série que destaca os espaços que servem de ponto de união entre comunidades através do desporto.

Na costa de Dakar, uma cidade da África Ocidental rodeada por praias em três lados, encontrarás um lugar cheio de criatividade e capacidade atlética. Todos os dias na praia de Yoff, onde a areia percorre toda a costa norte da capital do Senegal, os pescadores recolhem a pesca do dia, enquanto os surfistas apanham as ondas. Os corredores passam por um jogo de futebol de praia intenso, desviando-se das bolas perdidas. Uma equipa de luta livre treina aos pares com o sol a bater nas costas. No entanto, no meio de tudo isto, uma atividade de praia invulgar destaca-se: o breakdance.

O Xavier Goudiaby faz um "salto costal" enquanto a maré desce.

Este estilo aeróbico de dança de rua pode ser algo surpreendente de contemplar em qualquer outra praia, mas não nesta. Os dançarinos que normalmente treinam no ginásio e nas ruas juntaram-se ao cenário animado da praia de Yoff para praticar e atuar na paisagem natural de areia, que dizem melhorar os movimentos e impressionar os transeuntes.

"É habito vir à praia ver as diferentes atividades desportivas que praticam aqui", afirma Amadou Sow, que visita a praia de Yoff regularmente. Amadou diz-se impressionado com o nível de habilidade dos dançarinos em Yoff e vê o seu treino como um caminho para se tornarem profissionais remunerados. "O breakdance é extraordinário. É muito agradável de se ver", acrescenta.

Terrenos de jogo: o futuro do breakdance

Ao praticar na rebentação das ondas, o grupo Power Crew descobriu uma abordagem ao cross-training para melhorar a resistência e a agilidade.

"Existe solidariedade... É algo poderoso."

Xavier Goudiaby

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O Francis Bampoky (à frente do lado esquerdo) ajuda o Xavier a completar o "salto" enquanto o grupo Power Crew assiste nas ondas.

A destacarem-se aqui desde 2013, os Power Crew são um grupo de sete dançarinos que treina na praia de Yoff duas vezes por semana durante a tarde para melhorar as suas apresentações de rua enérgicas. "A areia ajuda a criar resistência e força", afirma o líder do grupo de 27 anos, Xavier Goudiaby. "Pensámos: «Porque não aplicar isto na dança?» Quando voltarmos ao pavimento, estávamos mais rápidos."

O grupo aprendeu que a areia irregular e em constante movimento e a resistência existente das águas rasas ajudam a maximizar a sua agilidade e a força, minimizando assim a sua necessidade de ir ao ginásio fazer cross-training. "Já o fazemos na areia", afirma o Xavier, que, ao fazer um mortal à retaguarda sem esforço na linha costeira, comprova que esta abordagem ajuda a elevar os seus movimentos a outro nível.

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O Demba Ndiaye termina uma apresentação de rua com o grupo Power Crew, enquanto os locais se juntam para os ver e aprender.

O Demba Ndiaye, de 24 anos, afirma que se interessou pela modalidade depois de "ir a um cibercafé para ver vídeos de breakdance". Com a ajuda desses vídeos, treinou e aprendeu a técnica sozinho e sem música num campo de basquetebol. Um dia, em 2019, o Xavier viu o Demba a treinar e convidou-o para se juntar ao Power Crew.

O breakdance tem estado em ascensão em Dakar desde os anos 80, altura em que a música hip-hop entrou na cultura senegalesa à boleia dos programas de televisão franceses e das lembranças musicais trazidas dos Estados Unidos. Agora, na maioria dos dias na cidade, os locais andam pela rua para ver grupos como os Power Crew atuar. As crianças da vizinhança esperam pacientemente à margem na esperança de conseguirem dicas dos profissionais, como, por exemplo, fazer um pino.

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O Emmanuel Goudiaby faz um "clash" durante uma sessão de treino.

Embora este estilo de dança já marque presença em Dakar há várias décadas, o breakdance em grupos só foi introduzido recentemente nas praias da cidade. Uma vez que os residentes treinam frequentemente ali, os dançarinos já se sentiam em casa. "A praia de Yoff é muito acessível", afirma Furbain Poaty, que visita a praia regularmente. "Há atletas que vêm de toda a cidade (para treinar), porque a praia é muito ampla."

Yoff está também preparada para atletas de uma forma única, afirma Furbain, porque não é rochosa e a sua extensão ampla de areia indulgente torna as quedas mais macias.

Terrenos de jogo: o futuro do breakdance
Terrenos de jogo: o futuro do breakdance

Em Yoff, o Xavier e o seu grupo treinam frequentemente junto dos banhistas. Dizem que, ao vir à praia, esperam poder sensibilizar as pessoas para a sua modalidade e atrair potenciais novos dançarinos. "Nós vimos à praia para dar a conhecer o breakdance às pessoas", afirma Joel Mané, antigo membro dos Power Crew, que agora ajuda a gerir o grupo. "Queremos partilhar o que fazemos com outras pessoas."

Por vezes, os banhistas mais curiosos fazem perguntas sobre os movimentos que desafiam a física. "Perguntam se o podem fazer", diz o Xavier, referindo-se ao breakdance. "Nós respondemos: «Claro que sim»."

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Os senegaleses descrevem muitas vezes a sua nação como "pays de la Teranga", o que significa essencialmente "um país que te acolhe e respeita". Na praia de Yoff, os locais dão as boas-vindas uns aos outros nos seus respetivos desportos e perguntam "Nagadef?", que significa "Como estás?" no idioma local, uolofe. Carroças puxadas por cavalos circulam sobre a areia, transportando a pesca do dia da praia para os restaurantes e as lojas locais. "Existe solidariedade", afirma o Xavier sobre este lugar. "As pessoas dizem que é algo poderoso", acrescenta sobre a sua modalidade.

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O Xavier mantém um "freeze Y" na praia de Yoff.

Ninguém está a mais nesta praia e, embora seja uma surpresa, o breakdance de praia encaixa na perfeição. A cultura de dança do hip-hop tem origem na dança tradicional africana, por isso, em muitos aspetos, ao aparecer em Dakar, em locais como a praia de Yoff, o breakdance está de volta a casa.

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Texto: Kimiya Shokoohi
Fotografia: John Wessels

Escrito em: setembro de 2020

Data de publicação original: 3 de junho de 2021