O campo de um bairro da Croácia ganha nova vida

Comunidade

Uma nova geração de basquetebolistas croatas restaurou o campo local e uniu a comunidade do bairro.

Última atualização: 8 de abril de 2021

Numa noite nublada no subúrbio da classe trabalhadora de Gajnice, na Croácia, uma pequena multidão junta-se ao longo da linha de fundo de um campo de basquetebol. A luz amarela suave ilumina as silhuetas e projeta as respetivas sombras nos imponentes blocos residenciais que ladeiam o campo. Táxis brancos vão e vêm. Para lá da vedação de rede, os comboios pendulares passam e o som rítmico do choque das rodas nos carris pontua a atmosfera.

Esta é a famosa praça de táxis de Gajnice. O orgulho do bairro, o centro do seu mapa de calor urbano. É aqui que as pessoas conversam, passeiam e, acima de tudo, jogam basquetebol. Sob o céu noturno, uma chuva fraca começa a cair, escurecendo o asfalto manchado, mas ninguém está com pressa. Trocam-se piadas antigas. Dizem-se asneiras. Põe-se a conversa em dia. Muitos jogadores vieram a pé dos seus apartamentos nas proximidades ou pararam a caminho de casa, ainda com a roupa de trabalho vestida, e mudam-se nos carros.

"Muito bem, vamos a isto", irrompe uma voz grave em croata.

Primeira fila em Gajnice, Croácia

"Colocámos este campo, este bairro, no mapa."

Ivan Krizmanic

Num instante, despem-se camadas e apertam-se os atacadores. Começa um jogo frenético de cinco contra cinco. Na praça de táxis, o estilo de jogo só pode ser descrito como físico. Raramente são assinaladas faltas e, quando te diriges ao cesto, o mais provável é pagares o preço. Dizer que os jogos são "agitados" é pouco. "Sempre jogámos de uma forma mais dura", afirma o Ivan Krizmanic, um base naturalmente tranquilo com um drible cruzado conhecido por dar cabo de tornozelos. "Não há cedências. Não há pontos fáceis."

Primeira fila em Gajnice, Croácia

Aqui, o respeito em campo é fundamental, sobretudo no que se refere a representar o bairro. Todos os verões, quando a praça de táxis acolhe o seu torneio anual de três contra três, jogadores de cidades próximas e, mais recentemente, de países vizinhos vêm desafiar a equipa local. "Queremos derrotá-los e dizer: «Vieram a Gajnice. Este campo é nosso. Boa sorte para a próxima.»", refere o Ivan.

Primeira fila em Gajnice, Croácia

No entanto, nem sempre foi assim na praça de táxis. Durante muitos anos, a área de lazer entrou em decadência até que uma nova geração assumiu a remodelação do campo. "Mudámos as tabelas de cestos. Desenhámos as linhas. Temos os nossos próprios holofotes", afirma o Miroslav Josic, um veterano do campo. Desde então, tornou-se um local de orgulho. "Colocámos este campo, este bairro, no mapa", acrescenta o Ivan. "Ninguém sabia sequer da sua existência antes de começarmos a jogar e a divulgá-lo."

Primeira fila em Gajnice, Croácia

Acima de tudo, o campo também se tornou um local de reunião para as gerações mais jovens e mais velhas, quer joguem ou não. "Todos vêm até este campo. De crianças de cinco anos e todas as faixas etárias às gerações que têm cinquenta e sessenta anos", refere o Ivan. "Todos são bem-vindos."

Primeira fila em Gajnice, Croácia

Embora o campo continue a obter reconhecimento internacional, a sua equipa local diária mantém-se uma família pequena, mas unida. Os membros da comunidade são provenientes de vários setores, entre eles farmacêuticos, empregados de bares, advogados e trabalhadores de armazém, unidos pelo jogo que tanto adoram. Conversam diariamente através de um grupo de mensagens de texto, agendam jogos e, muitas vezes, bebem umas cervejas depois do jogo. "As pessoas que jogam comigo são como irmãos", afirma o Miroslav. "Não são só amigos."

Primeira fila em Gajnice, Croácia

Data de publicação original: 1 de novembro de 2020