Pergunta ao teu treinador: "Não entrei na equipa principal da minha escola. E agora?"
Orientação
Um jovem basquetebolista acabou de ver os seus sonhos levianamente desfeitos. Courtney Banghart, da UNC, sabe o que isso é e tem alguns conselhos simples a dar.
"Pergunta ao teu treinador" é uma coluna de recomendações para te ajudar a manter a cabeça no jogo.
P:
Olá, treinadora.
Sempre fui o melhor jogador em campo. Em qualquer campo. Sempre que jogava, fosse no parque com os amigos ou na equipa principal da minha antiga escola, era eu quem liderava. Isto é, até a minha família se mudar. Nas provas de seleção para a equipa principal de basquetebol da minha nova escola secundária, todos os que estavam em campo eram mais rápidos, mais fortes e, em suma, melhores. Senti-me completamente exposto e, como era de esperar, não fui escolhido. Ofereceram-me um lugar na equipa secundária, mas receio não chegar mais longe do que isto. Se não jogar com os melhores, conseguirei tornar-me o melhor?
Subitamente, simplesmente "razoável"
Jogador de basquetebol de 16 anos
R:
Eu sei o que isso é. Ou seja, muito concretamente, tal como tu, não entrei para uma equipa em que sabia que merecia estar. É claro que muitos já passaram pelo mesmo. Então, por que razão custa muito mais a pessoas como tu e eu?
Quanto a mim, posso dizer-te que o desporto era tudo para mim quando era jovem. A primeira palavra que disse não foi "mãe" nem "pai", foi "bola". A sério. Sou de uma pequena cidade de New Hampshire, onde todos jogavam todos os desportos, porque, caso contrário, não era possível completar as equipas. Eu era o tipo de criança que chegava a casa dos treinos de futebol e começava a praticar lançamentos ao cesto sem sequer tirar as caneleiras. Também terá havido alguma prática de skateboard, hóquei no gelo e patinagem artística pelo meio.
O futebol foi a minha primeira paixão, mas também a minha primeira desilusão.
Quando tinha 9 anos, fiz provas para entrar na equipa do escalão de infantis. A minha equipa da escola tinha sido a melhor do estado, pelo que estava habituada a vencer. Tinha a certeza de que iria entrar para a equipa de infantis, mas não entrei. No início, não queria acreditar. Nunca tal me tinha acontecido. O que tinha para oferecer não era suficiente. Eu era dispensável. O treinador disse aos meus pais que eu tinha imenso potencial, mas que era demasiado pequena. Os meus pais tentaram confortar-me, mas nada ajudou. Fiquei mesmo destroçada.
Como consegui esquecer isso? Bem, talvez não o tenha conseguido totalmente, já que estou a falar nisso agora! Contudo, o facto é que continuei a jogar, pois no fim de contas não tinha outra hipótese. Sei que até pode parecer um exagero, mas o desporto sempre foi a minha forma de ligação com o mundo. Era tudo o que conhecia. Por isso, não ia desistir de modo algum. Se é que é possível avaliar o teu caráter baseado num e-mail de 100 palavras, o mesmo acontece contigo.
Ouves falar de muitos dos jogadores de alto nível que usam este tipo de rejeição como um estímulo para regressarem ainda melhores e não tenho nada contra. Sou totalmente a favor de uma boa história de desforra desportiva à moda antiga. Havia uma rapariga que eu costumava treinar que era a jogadora com a classificação mais baixa da sua nova turma. Ela escreveu essa classificação no seu quadro branco, como lembrete. Todos os dias olhava para essa classificação e concentrou-se em provar o contrário. Acabou por jogar o maior número de minutos do que qualquer outra colega da equipa, logo no primeiro ano. Por isso, aqui está uma estratégia que até nem resultou mal.
Outra estratégia: tenta mudar a tua definição pessoal de "melhor". No fim de contas, há muitas qualidades diferentes que fazem de alguém um excelente jogador. Claro que há quem seja puramente dotado a nível físico. No entanto, também há o apoio que podes dar a uma equipa, a essência que melhora a tua cultura coletiva. Depois há a garra. Consiste na tua determinação em continuares a esforçar-te e continuares a melhorar, independentemente das adversidades. Isto só depende de ti e é o teu melhor barómetro para saberes o quanto conseguirás alcançar.
Tenta mudar a tua definição pessoal de "melhor". No fim de contas, há muitas qualidades diferentes que fazem de alguém um excelente jogador.
É a garra que te irá motivar a analisar profundamente como podes elevar o teu jogo e definir um conjunto de objetivos claros para lá chegares. Coloca questões a ti próprio que te ajudem a identificar esses objetivos. Anota esses objetivos e divide-os em etapas, mas certifica-te de que estão nas tuas mãos. Ser aceite na equipa principal? Não está nas tuas mãos. Melhorar os teus lançamentos a longa distância ou a tua ajuda na defesa? Perfeitamente exequível.
Então, como superas aquilo que não está nas tuas mãos? O teu lema deverá ser "competir, não comparar". Isso é muito difícil de fazer quando estamos imersos nas redes sociais e vivemos num mundo de comparação constante que, por vezes, parece ter sido concebido para nos derrubar. Contudo, quando gastas energia ao comparares-te com os adversários da equipa principal, estás a tirar energia para competires com eles. Apesar de não teres qualquer controlo sobre o jogo deles, dominas totalmente o teu jogo.
Na verdade, tudo o que peço que faças está totalmente sob o teu controlo: usa a desilusão como motivação, redefine a aceção de "o melhor" para "o mais esforçado", elabora um conjunto de objetivos tangíveis, deixa de te preocupar com a galinha da vizinha e concentra-te em arrasar na equipa secundária. É uma sensação poderosa saber que temos todas as ferramentas de que necessitamos para sermos bem-sucedidos. Só tens de arregaçar as mangas e utilizá-las.
Treinadora Banghart
Courtney Banghart é a treinadora principal de basquetebol feminino na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Também foi treinadora principal na Universidade de Princeton. Em 2015, recebeu o prémio Naismith de treinadora do ano a nível nacional e foi treinadora adjunta da seleção norte-americana de basquetebol feminino sub-23 de 2017. Banghart era uma jogadora imprescindível em Dartmouth e estabeleceu o recorde da Ivy League de maior número de lançamentos de três pontos na carreira, que ainda não foi superado. Faz parte do conselho de administração da Associação de Treinadores de Basquetebol Feminino e do Comité de Supervisão de Basquetebol Feminino da NCAA.
Envia um e-mail para askthecoach@nike.com com uma pergunta sobre como melhorar a tua mentalidade no desporto ou no fitness.
Fotografia: Jayson Palacio
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